O século XX se caracterizou, sob o ponto de vista da saúde, pela transição epidemiológica, no Brasil e no mundo. Até os anos 70, as principais causas de morte eram as infecciosas e parasitárias; a partir da década de 80, registrou- se um aumento importante das causas crônicas. Essas mudanças se deveram às melhorias das condições de saneamento e moradia, ao melhor acesso aos serviços de atenção à saúde, incluindo o avanço da tecnologia nesta área, às alterações na alimentação, com maior consumo de produtos ricos em gorduras, e ao aumento do sedentarismo (Cervi et al., 2005).
Segundo a Organização Mundial da Saúde – OMS, ocorreram 35 milhões de mortes por doenças crônicas, em 2005, sendo que 21,7% delas corresponderam às neoplasias. Em 2000, no Brasil, as neoplasias ocupam o segundo lugar entre as causas de morte, sendo superadas apenas pelas doenças do aparelho circulatório e ultrapassando o total de óbitos por causas externas. Já em 2006, o Instituto Nacional do Câncer _ INCA estimou a ocorrência de 234.570 novos casos de câncer entre brasileiros do sexo masculino e 237.480, do sexo feminino, sendo os mais incidentes os de próstata e os de mama (BOING et al., 2007).
No Estado de São Paulo, as informações das estatísticas vitais processa- das na Fundação Seade acusaram aumento nos óbitos por neoplasmas malignos de 110,3%, para os homens e de 126,7%, para as mulheres, no período de 1980 a 2005, conforme mostra a Tabela 1.
Tabela 1
Óbitos por Neoplasmas, por Sexo
Estado de São Paulo
1980-2005
Ano |
Homens |
|
Mulheres |
|
Total |
|||
Nº Absoluto |
% |
|
Nº Absoluto |
% |
|
Nº Absoluto |
% |
|
1980 |
10.424 |
10,30 |
|
8.072 |
11,26 |
|
18.496 |
10,70 |
1990 |
14.077 |
11,50 |
|
11.552 |
14,03 |
|
25.629 |
12,51 |
2000 |
19.517 |
13,77 |
|
15.867 |
16,52 |
|
35.384 |
14,88 |
2005 |
21.923 |
16,15 |
|
18.299 |
18,35 |
|
40.222 |
17,09 |
Fonte: Fundação Seade.
Esse acréscimo relaciona-se ao envelhecimento da população no período e ao conseqüente crescimento da exposição às doenças crônicas, além de se ligar à melhoria do sistema de saúde, ao aumento da urbanização, ao sedentarismo, entre outros fatores.
No entanto, o incremento nos óbitos não se dá por igual nas diversas faixas etárias nem por sexo. Como se vê no Gráfico 1, nos grupos mais jovens não se nota grande incidência dessa enfermidade, a qual adquire importância a partir da faixa de 40 anos. Apesar do acréscimo no número absoluto de óbitos, pare- ce haver maior sobrevida dos enfermos, visto que o aumento das taxas só foi acusado no grupo de 70 e mais anos de idade.
Gráfico 1
Taxas de Mortalidade por Neoplasia Maligno, segundo Grupos Etários e Sexo
Estado de São Paulo
1980-2005
Fonte: Fundação Seade.
Chama a atenção, também, neste gráfico, que existe uma sobremortalidade para os homens, decorrente do maior número de óbitos por neoplasia maligno, quando comparado às mulheres, e um menor contingente presente na população daquele sexo.
Na tabela 2, estão representados os principais capítulos de causas de morte da Classificação Internacional de Doenças, mostrando que no Estado o percentual de óbitos por câncer para as pessoas de 40 anos e mais de idade, evoluiu de 15,3%, em 1980, para 19,1%, em 2005, o que representa aumento de 3,8 pontos porcentuais nos últimos 25 anos. Ressalta-se que, entre outros fatores, o crescimento da mortalidade por câncer pode estar relacionado com a maior precisão do preenchimento das declarações de óbitos, o que diminui a proporção de causas mal definidas (MAMERI, 1993).
Tabela 2
Distribuição dos Óbitos de 40 anos e mais, segundo Causa de Morte, por Sexo
Estado de São Paulo
1980-2005
Em %
Causa de Morte (Capítulos da CID)
|
1980 |
2005 |
||||
Homens |
Mulheres |
Total |
Homens |
Mulheres |
Total |
|
Total |
100,0 |
100,0 |
100,0 |
100,0 |
100,0 |
100,0 |
Doenças do Aparelho Circulatório |
47,5 |
53,0 |
49,9 |
33,1 |
37,3 |
35,0 |
Neoplasmas |
15,2 |
15,4 |
15,3 |
19,0 |
19,2 |
19,1 |
Doenças do Aparelho Respiratório |
8,0 |
7,3 |
7,7 |
11,7 |
12,2 |
11,9 |
Causas Externas |
6,8 |
2,6 |
5,0 |
7,8 |
3,0 |
5,7 |
Demais Causas |
22,5 |
21,7 |
22,2 |
28,4 |
28,3 |
28,3 |
Sintomas, Sinas e Afecções Mal Definidas |
6,4 |
6,2 |
6,3 |
7,0 |
6,3 |
6,7 |
Fonte: Fundação Seade. |
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Enquanto para o total dos homens as mortes por neoplasias ocupam o terceiro lugar no Estado, na faixa etária de 40 anos e mais elas caiem para o segundo lugar, visto que as causas externas já não representam tanta importância como para as faixas mais jovens. A mortalidade por câncer é suplantada somente pelas doenças do aparelho circulatório, fenômeno também detectado entre as mulheres deste mesmo grupo de idade.
Analisando-se as taxas de ocorrência de neoplasmas malignos, relativas aos homens com mais de 40 anos, observa-se (Gráfico 2) um aumento acentuado, a partir de 1980, para o neoplasma maligno da próstata, e uma desaceleração do crescimento de 2000 a 2005. Processo semelhante foi registrado nas taxas por neoplasias do cólon, reto e ânus.
Já as taxas de mortalidade por neoplasmas de estômago reduziram-se significativamente no período. As neoplasias malignas de traquéia, brônquios e pulmões apresentam as maiores taxas desde 1990, com ligeiro declínio em 2000 e 2005.
Para as mulheres dessa mesma faixa etária, nota-se um crescimento continuado nos últimos 25 anos para a mortalidade por neoplasias de traquéia, brônquios e pulmões e de cólon, reto e ânus. À semelhança do que aconteceu entre os homens, houve menor incidência do câncer de estômago no período analisado.
As campanhas de prevenção do câncer de mama divulgadas pelos meios de comunicação parecem causar um bom efeito, visto que se registrou uma estagnação nas respectivas taxas por volta de 48 óbitos por 100.000 mulheres.
Gráfico 2
Taxas de Mortalidade de maiores de 40 anos por principais tipos de Neoplasma Maligno por Sexo
Estado de São Paulo
1980 – 2005
Fonte: Fundação Seade.
As altas taxas de incidência e de mortalidade por câncer, somadas à expectativa de seu acréscimo nas próximas décadas principalmente decorrente do processo de envelhecimento vivenciado pela população paulista, intensificam a necessidade de pesquisas e ações para controlar este agravo.
Devido à qualidade das estatísticas de mortalidade, sugere-se que essas se tornem uma das melhores alternativas para o conhecimento do impacto do câncer nos diferentes segmentos da população, visto que é economicamente inviável implantar um sistema de informações para se detectar e medir a sua incidência.
Assim, o conhecimento atualizado da ocorrência dos óbitos contribui para melhor e mais precoce diagnóstico dos cânceres, permitindo que medidas terapêuticas mais exitosas possam ser tomadas e colaborando para a baixa do custo dos tratamentos e mais efetivas curas.
Bibliografia
BOING, Antonio Fernando; VARGAS, Silvia Angélica Lopes; BOING, Alexandra Crispim. A carga das neoplasias no Brasil: mortalidade e morbidade hospitalar entre 2002-2004. Revista da Associação Médica Brasileira, v.53, n. 4, São Paulo, jul./ago 2007.
CERVI, Adriane; HERMSDORFF, Helen Hermana Miranda; RIBEIRO, Rita de Cássia Lanes. Tendência da mortalidade por doenças neoplásicas em 10 capitais brasileiras, de 1980 a 2000. Revista Brasileira de Epidemiologia v.8, n. 4, São Paulo, dez. 2005.
MAMERI, Cecília Polidoro. Mortalidade por neoplasma maligno (câncer) no Estado de São Paulo. Conjuntura Demográfica, n. 23, São Paulo, abril/jun 1993.